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Visitas.

17.6.06


Sou, provavelmente, a única mulher a quem camas grandes fazem dormir encolhida.
Acordei às 5h30 da manhã, claro está, estreita numa das pontas da cama como se não quisesse incomodar ninguém e fui até à Varanda, procurar-me na minha companhia.
.
.
A vizinha passou a noite em braços alheios.

Veio jantar, apresentou-me o adorado, estiveram por aí no serão e depois foram sair, foram passear, tão lindinhos, como duas andorinhas saíram para namorar.
Fiquei com uma caneca de café quente e um cobertor ladroado à cama a ver os barcos saírem para mar alto, a ver quem passa para trabalhar sem descanso e a perceber que a Apúlia tem uma sinergia muito própria a cada hora que lhe apanho do dia.

Estava calma, estava certa.
Quem ali passava, passava com a convicção, ou a indiferença, de todos os dias.
Tenho dias em que percebo muito bem o Fado. Hoje tem sido um deles.
Na minha volta pela manhã à Vila não resisti à gentileza do Público e trouxe-lhe a Mafalda.
Foi nela que peguei para ler este pedaço do meu país.


A Selecção deu-nos mais uma alegria, mais uma vitória, e cobriu a Apúlia das cores que se conhecem em Portugal. O Quim Barreiros (sim, o próprio!) anda por aí agarrado à concertina e aos amigos a cantar pelas ruas. No banco do jardim tira-se o luto dos ombros em desabafo com uma amiga. No Castelo cospe-se conversa ao vento que vem do mar. No campo de jogos só aquela idade de jogar à bola. No Mercado os lenços como ainda não sei amarrar ao cabelo. Um degrau de casa de férias deixa alguém ler o Diário do Minho. Pela lota cosem-se redes e estende-se roupa em cordas alinhadas. Na praia, mulheres e gaivotas correm sozinhas, contra o vento.

E eu aqui, de camarote, como diria o outro a beber das tetas da puta, coberta de privilégios que me obrigam a guardar dentro apenas porque alguém se lembrou de me pôr num alto de praia sozinha à espera do que vem no mar.
A primeira vez que estive nesta Esplanada dos Moinhos escrevi sobre a minha peixeira.
O cenário é roubado ao óbvio.
Barracas de praia listadas a azul e branco definem as linhas da areia até ao mar. Os barcos atracados na areia enchem o porto e, por arrumar, fica um vermelho e branco a chamar pela ‘Maria Leonor’. Estou em cima de madeira quase 03 e olho o salitre agitado sempre que preciso de me pensar numa vírgula.


Trouxe para a Apúlia o imperativo de levar a personagem para a Narrativa de Histórias Mínimas, um Curso que ando a fazer no Miolo, uma escola de escritores que abriu lá no Porto. Acima de tudo o timing exige-me que encontre alguém com quem queira falar sobre da minha vida.
Durante toda a semana não percebi deixa que não agarrasse, não ouvi provocação a que não respondesse. Falei com muita gente, até porque sou de falar. E acho que a acabei de encontrar.
Bendita raça calé Carmenzita,
linda graça
Tão bonita a tua fé.
Bendito presente e passado
De mãos dadas num verso em branco
À espera de um futuro.
Bem digo essas almas que andam
Uma vida à procura
Do luar que vem do céu.

Seja!

Maria Leonor.
Pele lisa a ondular pelas rugas morenas.
Sorriso? Largo.
Mãos de lado a agarrar o que guarda nos bolsos do avental.
Olho azul, num acto mais do que comprovativo que o azul e o castanho em qualquer circunstância combinam sempre qualquer coisa.
Todas as manhãs desde há quarenta anos o lugar dela no mundo é no alto da praia.
Mãos nos rins, expressão suspensa e imaleável.
Olhos presos no mar.

Espera.
Espera quarenta anos de manhãs pelo Pasuca muito mais do que espera pela prata do mar.
Guardo-lhe a cara com que me contou como foi a Bordéus com o Rancho dos Sargaceiros.
Ou aquela em que me disse que gostar, gostar, gostava de dançar com o marido.

Percebi-a no ano passado.
Percebi-a melhor este ano.
Percebo a mulher que nela ferve.
Percebo a que ama.
E não esqueço mais como me chamou a sentar-me a seu lado, atrás da banca de peixe, e me ensinou como um Congro pode arrancar dedos.
Traga a Sua Senhora da Guia e venha daí fazer um conto comigo.
.
.
Chegam à Esplanada dos Moinhos cinco testemunhas de crimes cometidos e partilhados. Amigos da terra, de dentro, vêm à Apúlia, espírito tranquilo e cheio de tempo, perceber o que tanto vejo eu por aqui.
São recebidos pelos meus braços alinhados com os da Maria Leonor e da Senhora da Guia.
Arrastam-nos pelas ruas em visita turística e fazem-nos sonhar ainda outra vez com os moinhos.
A varanda, os brinquedos de boas vindas, a andorinha, o rádio transistor, a vista da baía que o mar roubou à terra, a parede de fotos, mais aquilo que é meu, que fala por mim e que se lê em mim impelem-me, num instinto, a agarrar na máquina para guardar estas caras por aqui.


Camelo connosco!

A vista é quase um sufoco!

O ambiente em baixo tom, ameno.
Para nós nada menos do que a melhor mesa do piso de cima.
Alguém saberá escolher um Tinto fantástico e a cozinha oferece sempre uma alternativa inteligente e enquadrada na terra.


A brincar, a brincar, tudo acaba por interferir na conversa que se desabafa, nas memórias que se partilham, nos objectivos que para nós ali vemos definirem-se.
Brindamos às mudanças que só com estes nos prometemos, aos amores que ali trazemos, aos abandonos que ali esquecemos.

.
Temos vida de gente grande e ninguém sabe que brincamos com bolas de sabão, jogamos à bisca e que um vira vento nos saca sorrisos como jamais outro brinquedo!
Ninguém sabe que amamos em preciosa adolescência, viajamos de peito apertado pelo que fica e vivemos apenas com o mundo mágico que nos prometeram. Porque, lá está, prometeram.

Sou um bicho social e percebi que foi importantíssimo habitar-me por estas caras na Apúlia. Talvez para me lembrar da realidade que tenho para contar à Maria Leonor.
Não consigo viver sem partilhar aquilo que escolho, que gosto, que me ferve dentro. Metade da história que trago comigo partilha cenários com estas caras.
Quantas pessoas conhecem tamanho privilégio? E vê-las enquadradas na contra luz que faz esticar os moinhos quietos banhou-me em serenidade.



.
Subi à varanda, peguei num cigarro e fui pensa-lo encostada ao corrimão.
A minha linda anda namoradeira e já me tinha dito que dormia fora. É o amor.. põe-nos sempre impulsivas, insanas e voadoras!

Do outro lado da rua,
em fúria de Saturday Night
soa a frase musicada From Jamaica to the World.


Rodo o meu Vira Vento a norte na certeza de fazermos parte da última geração que depende apenas de amor para tudo ter na vida.
Afinal ainda saímos para brincar, cultivamos o pôr de sol de areia e compramos um tinto para dar corpo a algumas conversas.
São estes os nossos difíceis amores!
E quanto orgulho tenho eu em nós!

posted by SCS
junho 17, 2006