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Despedidas.

18.6.06


Abri a minha cortina e era dia,
era o último dia.
A Apúlia lá em baixo espreguiçava-se num Domingo acordado devagar.
O vento vinha de frente e sacudiu-me bandeiras de gelados na cara.
Virei o meu Vira Vento a oeste enquanto a andorinha fortalecia o ninho em promessa de novas crias.
No final da tarde é uma algazarra só na nossa
varanda.. Andam feitos loucos à procura de um colo onde possam encolher o dia. A esta hora ninguém os vê! Andava a minha andorinha no espaço de mulher que é só dela. Conheço-o bem.

Peguei na máquina, na Mafalda e saí para registos de viagem.
Este ano ficam na memória a preto e prata, granulado espelho de preciosidade.
Fui à minha última volta pela Vila para encontrar conforto no comum que já me sabia
de partida. Os elos que se criam são, para mim, admiráveis.
Memorizei o último arfo rogado num pregão, o último então menina, o que vai ser hoje? e um particular até pró ano que me enternece guardar cá dentro.

Fui despedir-me.
Fui despedir-me de todos os que me receberam com três sorrisos e duas de letra, quatro perguntas e um mimo.
De todos que deixaram em mim a parte da Apúlia que defendem e rendem, sem descanso. Desses que aprendi a viverem do Senhor que está a oeste a virar voltas, vent
os e vaidades nas suas vidas. Nas nossas vidas.

Doce bonança em que me embalam alguns outros.
A parte de vida que a mim deixam entregue tratarei a mil cuidados, a mil afagos. Contarei apenas a quem sabe qu’é lá isso de viver de olhos presos no mar à espera de um aceno, de um regresso, de um caso.
Até porque me ajudaram a perceber que não existe Tinto no chão do quarto maior do que isso que me deram a provar na minha última manhã de preciosa Apúlia. Ouvi o clap da minha
manual disparar seco para guardar dentro o que sentia. Percebi, num click, que estou rodeada de amor por todo e qualquer lado da minha vida.
.
.
Qual ilha protegida, qual península que se atraca!

Vim à Apúlia perceber que o desejo que, como por feitiço, deixei ao vento do Mediterrâneo de Amor, Amoor, Amooor... se concretizou.
Fui convidada a partilhar do amor de tudo o que tenho na vida: dos gentis estranhos, dos vincados irmãos, dos ansiados amigos, dos frenéticos fados, dos míticos pássaros.
Do que se vê e se colhe.
Por onde se passa, onde se dorme, aninha, encolhe.
Não há vértice ou verdade que não se faça de enlace.
Objecto estudado,
ser navegado,
ângulo sacado que não esteja pulverizado com três ecos de Amor.
Fui preciosista no desejo que pedi à magia.
E ei-lo!
Ei-lo por todo o lado de cada espaço,
em cada hora que se demora.
Ei-lo dentro.
Ei-lo cá dentro, raio!
O vento está de mar.
Estou num alto de praia a olhar o reflexo do sol em salitre agitado.
Vejo tudo.
Vejo claramente tudo.
Vejo-te a ti.
E levanto o meu queixo até à linha do horizonte.
Eu também sei que estás a caminho.
E sei que estás a passar por cima,
rasgar a meio como quem corta a direito
o caminho que te faz até mim.
Sei que és tu quem me grita esta certeza dentro,
conheço de longe o teu aceno.
E não há nevoeiro, nortada ou cargueiro
que me arranque daqui.
Que me arranque esta certeza de ti.
Estou de braços abertos para te encurtar o andar.
Vês-me?
Vês-me?
Sou castanho terra.
Sou azul roubado ao mar.
Segue-me.
Segue-me pela beirinha da água.
Segue-me até nossa casa.
Tens na varanda um ninho que te cega.
Na janela, apenas eu, quem te espera.

posted by SCS
junho 18, 2006

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Visitas.

17.6.06


Sou, provavelmente, a única mulher a quem camas grandes fazem dormir encolhida.
Acordei às 5h30 da manhã, claro está, estreita numa das pontas da cama como se não quisesse incomodar ninguém e fui até à Varanda, procurar-me na minha companhia.
.
.
A vizinha passou a noite em braços alheios.

Veio jantar, apresentou-me o adorado, estiveram por aí no serão e depois foram sair, foram passear, tão lindinhos, como duas andorinhas saíram para namorar.
Fiquei com uma caneca de café quente e um cobertor ladroado à cama a ver os barcos saírem para mar alto, a ver quem passa para trabalhar sem descanso e a perceber que a Apúlia tem uma sinergia muito própria a cada hora que lhe apanho do dia.

Estava calma, estava certa.
Quem ali passava, passava com a convicção, ou a indiferença, de todos os dias.
Tenho dias em que percebo muito bem o Fado. Hoje tem sido um deles.
Na minha volta pela manhã à Vila não resisti à gentileza do Público e trouxe-lhe a Mafalda.
Foi nela que peguei para ler este pedaço do meu país.


A Selecção deu-nos mais uma alegria, mais uma vitória, e cobriu a Apúlia das cores que se conhecem em Portugal. O Quim Barreiros (sim, o próprio!) anda por aí agarrado à concertina e aos amigos a cantar pelas ruas. No banco do jardim tira-se o luto dos ombros em desabafo com uma amiga. No Castelo cospe-se conversa ao vento que vem do mar. No campo de jogos só aquela idade de jogar à bola. No Mercado os lenços como ainda não sei amarrar ao cabelo. Um degrau de casa de férias deixa alguém ler o Diário do Minho. Pela lota cosem-se redes e estende-se roupa em cordas alinhadas. Na praia, mulheres e gaivotas correm sozinhas, contra o vento.

E eu aqui, de camarote, como diria o outro a beber das tetas da puta, coberta de privilégios que me obrigam a guardar dentro apenas porque alguém se lembrou de me pôr num alto de praia sozinha à espera do que vem no mar.
A primeira vez que estive nesta Esplanada dos Moinhos escrevi sobre a minha peixeira.
O cenário é roubado ao óbvio.
Barracas de praia listadas a azul e branco definem as linhas da areia até ao mar. Os barcos atracados na areia enchem o porto e, por arrumar, fica um vermelho e branco a chamar pela ‘Maria Leonor’. Estou em cima de madeira quase 03 e olho o salitre agitado sempre que preciso de me pensar numa vírgula.


Trouxe para a Apúlia o imperativo de levar a personagem para a Narrativa de Histórias Mínimas, um Curso que ando a fazer no Miolo, uma escola de escritores que abriu lá no Porto. Acima de tudo o timing exige-me que encontre alguém com quem queira falar sobre da minha vida.
Durante toda a semana não percebi deixa que não agarrasse, não ouvi provocação a que não respondesse. Falei com muita gente, até porque sou de falar. E acho que a acabei de encontrar.
Bendita raça calé Carmenzita,
linda graça
Tão bonita a tua fé.
Bendito presente e passado
De mãos dadas num verso em branco
À espera de um futuro.
Bem digo essas almas que andam
Uma vida à procura
Do luar que vem do céu.

Seja!

Maria Leonor.
Pele lisa a ondular pelas rugas morenas.
Sorriso? Largo.
Mãos de lado a agarrar o que guarda nos bolsos do avental.
Olho azul, num acto mais do que comprovativo que o azul e o castanho em qualquer circunstância combinam sempre qualquer coisa.
Todas as manhãs desde há quarenta anos o lugar dela no mundo é no alto da praia.
Mãos nos rins, expressão suspensa e imaleável.
Olhos presos no mar.

Espera.
Espera quarenta anos de manhãs pelo Pasuca muito mais do que espera pela prata do mar.
Guardo-lhe a cara com que me contou como foi a Bordéus com o Rancho dos Sargaceiros.
Ou aquela em que me disse que gostar, gostar, gostava de dançar com o marido.

Percebi-a no ano passado.
Percebi-a melhor este ano.
Percebo a mulher que nela ferve.
Percebo a que ama.
E não esqueço mais como me chamou a sentar-me a seu lado, atrás da banca de peixe, e me ensinou como um Congro pode arrancar dedos.
Traga a Sua Senhora da Guia e venha daí fazer um conto comigo.
.
.
Chegam à Esplanada dos Moinhos cinco testemunhas de crimes cometidos e partilhados. Amigos da terra, de dentro, vêm à Apúlia, espírito tranquilo e cheio de tempo, perceber o que tanto vejo eu por aqui.
São recebidos pelos meus braços alinhados com os da Maria Leonor e da Senhora da Guia.
Arrastam-nos pelas ruas em visita turística e fazem-nos sonhar ainda outra vez com os moinhos.
A varanda, os brinquedos de boas vindas, a andorinha, o rádio transistor, a vista da baía que o mar roubou à terra, a parede de fotos, mais aquilo que é meu, que fala por mim e que se lê em mim impelem-me, num instinto, a agarrar na máquina para guardar estas caras por aqui.


Camelo connosco!

A vista é quase um sufoco!

O ambiente em baixo tom, ameno.
Para nós nada menos do que a melhor mesa do piso de cima.
Alguém saberá escolher um Tinto fantástico e a cozinha oferece sempre uma alternativa inteligente e enquadrada na terra.


A brincar, a brincar, tudo acaba por interferir na conversa que se desabafa, nas memórias que se partilham, nos objectivos que para nós ali vemos definirem-se.
Brindamos às mudanças que só com estes nos prometemos, aos amores que ali trazemos, aos abandonos que ali esquecemos.

.
Temos vida de gente grande e ninguém sabe que brincamos com bolas de sabão, jogamos à bisca e que um vira vento nos saca sorrisos como jamais outro brinquedo!
Ninguém sabe que amamos em preciosa adolescência, viajamos de peito apertado pelo que fica e vivemos apenas com o mundo mágico que nos prometeram. Porque, lá está, prometeram.

Sou um bicho social e percebi que foi importantíssimo habitar-me por estas caras na Apúlia. Talvez para me lembrar da realidade que tenho para contar à Maria Leonor.
Não consigo viver sem partilhar aquilo que escolho, que gosto, que me ferve dentro. Metade da história que trago comigo partilha cenários com estas caras.
Quantas pessoas conhecem tamanho privilégio? E vê-las enquadradas na contra luz que faz esticar os moinhos quietos banhou-me em serenidade.



.
Subi à varanda, peguei num cigarro e fui pensa-lo encostada ao corrimão.
A minha linda anda namoradeira e já me tinha dito que dormia fora. É o amor.. põe-nos sempre impulsivas, insanas e voadoras!

Do outro lado da rua,
em fúria de Saturday Night
soa a frase musicada From Jamaica to the World.


Rodo o meu Vira Vento a norte na certeza de fazermos parte da última geração que depende apenas de amor para tudo ter na vida.
Afinal ainda saímos para brincar, cultivamos o pôr de sol de areia e compramos um tinto para dar corpo a algumas conversas.
São estes os nossos difíceis amores!
E quanto orgulho tenho eu em nós!

posted by SCS
junho 17, 2006

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Vida Airada.

16.6.06



A Lagoa Atlântica está parada.
A linha do horizonte confunde-se com o sangue-frio da linha da margem. Se é que dá para acreditar.

Sinto o Sol comer-me aos bocadinhos, como se fossemos lagarta e couve.
Duas amigas falam em italiano mesmo na mesa ao lado.
A vila decidiu abandonar a sesta e vir para a borda de água.
Estão quietos lagartos sentados deitados, todos espalhados por aí.



Finalmente consigo concretizar-me na promessa de Uma Coca Cola Light numa Esplanada pela Apúlia.
Maldita Água Suja do Capitalismo – e agora de Estética - Anos 90 que insiste em não me largar!


Só quando viajo sozinha é que consigo abranger a dimensão da quantidade de mulheres solitárias que andam por aí. Ainda há pouco me cruzei com uma quando estava sentada na água.
Vestia preto de cima a baixo.
Não lhe dou mais de setenta anos.
Estava eu a cantar virada para o mar e ela passa de mãos atrás, nas costas, olha para mim, sorri-me e oferece-me as boas tardes. Retribuí de imediato porque senti o instinto de querer que também a tarde dela fosse boa.

Não é o meu vestido vermelho que me retira solitariedade.
Reconhecemo-nos sempre que nos cruzamos na rua, que olhamos olhos umas das outras.


Ela continuou a passeata um tanto enternecida, leva as mãos ao Mar e, ao refrescar a cara fica atenta à Lagoa, até à linha.
Senti-me respirar até ao fundo.
Conheço a força que lhe sai, num emanar.

É o instrumento que desempoeiramos quando vamos fazer aquilo que temos de fazer,
provar aquilo que nos apetece reter,
guardar dentro aquilo que nos recusamos a perder.
Afinal todas nós pintamos borboletas coloridas no gesso em que nos querem aquietar.


Como suspeitava, hora de mágicos cansaços é, no reino animal, hora de conquistar patente Quem Aninha no Poleiro.
Não sei se pela minha completa imobilidade ao Sol, se pela pacificidade em que me conhecem, Andorinha e quatro pretendentes perderam-me todos o respeito.
Eles não a largam!
Apanho-os nas maiores acrobacias, nunca imaginava!
Barafustam, praguejam, reviram cambalhotas, cruzam-se em algazarra, provocam-se, competem e voam,

soberbamente voam.
Fazem abordagens rápidas e certeiras ao ninho, já pousam no chão da varanda, no corrimão, na parede, um carrossel.
E ela ali, nem se mexe.
Aninhadita debaixo das asas, de longe a longe faz festinhas nas penas brancas do peito, numa arrogância desconcertante. Aparentemente, muito mais concentrada nos nossos discos pedidos, versão fadunchos com direito a dedicatórias, do que no frenesim que a envolve no mundo das aves.

Ponho o Vira Vento que comprei hoje de manhã na varanda, ao lado do baldinho e das forminhas. Viro-o para o mar. É de lá que está a vir o vento, a resposta, ou a pergunta. Ou o teu tempo contado devagar. Ou a tua vontade de o moldar.

O que foi? Não gostas deles?
Ou não gostas destes?
Não gostas do fácil? Do que está já aqui, imediatista,
à distância de ser bicado, é?
Não é nenhum destes que esperas que venha do mar?
Estes já conheces, estes já não queres?
Sabes quem queres?
Sabes o que não queres?
Carga feminina com cabeça própria?
Ah bom, e aguardas, portanto!
A nossa varanda é posto perfeito para aninhar a pensar na vida,
no gesso em que nos encarceram
e na invasão que não conseguimos abrir ao nosso ninho
reforçado todos os dias pela manhã.

O Tinto fica aí, no chão.
Vou sair, vou ver o pôr do sol na areia.

Atrás ficam os moinhos, lá no seu lugar, no seu alto de praia.
A vista estende-te para o Sol a descer, estourado.
Todo tu és lugar do comum.
Ideia absurdamente vulgar isto de se ir ver um por do sol à praia.
Ainda por cima, vestes a fatiota!
O rádio transistor, a ficar sem pilhas, apanha apenas uma estação que te inunda com ‘Till the end of the road, People e o Hotel da Califórnia.
Tens o frio de fim de dia de praia e cobres-te com um lenço cor de vinho, lilás e rosa.
O teu caderno enterrado na areia. Mesmo ao lado do tabaco de férias.
E de um relógio de bolso que guardas como amuleto de um tempo que alguém irá guardar.


Mas que queres?! É um culto de família que me ficou.
Isto engole-me. É muito maior do que eu!
As cores, nem sequer as cores, a cor. Parece uma única cor. Tantas e só uma. E cai-te em cima, e espalma-te na areia. O que cheiras, o frio que tens, o cabelo molhado, as mãos que enterras no granulado é maior,
é muito maior do que a tua tola, tão tola!, cabeça.
E embrulha-te.
E nivela-te.
E faz-te querer mais,
muito mais da vida que te anda a viver.

Só falta aqui gente, iguais, diferente.
Falta dizer um disparate.
Ou fazer..
Faltam sons, gargalhadas e múrmuros em preguiça arrastados.
Faltam as respostas aos pedidos,
as piadas de férias, falta um outro cérebro
reconhecer-se na música que te fica da Apúlia.
Faltas tu.
E o que é teu.
Dava imenso jeito que cobrisse agora o meu.
.

Recolhi ao meu Castelo de Cartas, arrepiada pela arte a que tinha sido exposta e pelo frio que me subia pelas costas. Enchi uma caneca com café, droguei-me a abafei-me.

Ao fundo, baixinho, o prometido Karaoke das Sextas não me deixou adormecer sem me sacar três merecidas gargalhadas.

Afinal, todos os equilíbrios são precários.
Porque haveria o meu, logo o meu, ser diferente?!

A Andorinha?
A resposta que o vento trazia do mar era para ela.
Estavam os dois, aninhadinhos, um no outro.
Parecendo-me, em justiça, ser essa a imagem a guardar como fiel retrato do dia.


posted by SCS
junho 16, 2006

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Oh Happy Day..

15.6.06


Não fosse hoje ser feriado
e cá estavam novamente as gargalhadinhas dos meninos e meninas da colónia de férias.
Corri a cortina e o sol rasgava o ar.
Dia para areia e mar.

Às vezes pareço a Luluzinha que tem um espaço em que ‘Menino Não Entra’. E confesso que gosto muito da mulher em que só aí me transformo.

Problemas com Intimidade???
Quem???
Eu????
Claro que sim.

Mas acho igualmente que existe alguma coisa que acaba sempre por ser só nossa.

E, sair daqui? Porquê??
A pergunta é: Porquê???
Se quiseres podes vir até cá, mas deves saber desde já que é disto que se vive.

É conhecido por ‘Momento daqui não saio.
Momento não estou a ver ninguém que daqui me tire.’
Meio estalo, meio afago.
Pedaço de Sol que quero reter debaixo da pele.

A vadia da andorinha passou a noite fora.
Eram sete da manhã quando fui espreitar a varanda pela última vez e nem à cama veio!
Ficou directa a voar.

Acabei de enterrar um cigarro na areia.
O Sol não me larga um instante, uma loucura!
O vento joga àquele Jogo do Toca e Foge e, ou rodopia e me faz cócegas, ou respira até ao fundo e me refresca.
Estou deitada e vejo o mar debaixo das curvas do meu braço, depois da areia. O azul e o castanho têm momentos em que combinam muito bem um com o outro.

Vivo declarado momento ‘Menino Não Entra’.
Estou mole. Estou fácil.
Estou sem amanhã.
Ou ontem.
E hoje é conceito que ainda nem me lembrei de ir ver se estava.

Queres?
Queres vir até cá amolecer um bocadinho?
Anda.
Anda. Deixa-me aprender o mar pelos teus braços.
Traz o teu azul e anda para a minha beira amolecer um bocadinho.
Estica-te aqui,
anda ficar fácil.
A única decisão que temos de tomar é quem vai levantar o braço
para procurar os discos pedidos no rádio transistor.
Fácil, fácil, fácil!
Estou a entrar na minha fase castanho.
Anda combinar qualquer coisa comigo.
Tão fácil assim.

Universo Responde, sem descanso.

A minha irmã anda à minha procura pelas ruas da Vila, com o Pai e a Filha.
Sentimento confortável de família por perto faz-nos sempre apressar pernas para nos lançarmos num abraço.

Contabilizarei, eventualmente, a quantidade de vezes que o meu pisco consegue dizer ‘Titi’ numa frase. Em repet! Fizemos e tomamos o Chá do Faz de Conta em que a habituei, demo-nos colo mútuo e oferecermos uma meiguice que apenas a nós está destinada.

A foto do dia guardo-a, porém, à expressão que a minha irmã roubou à cara para me perguntar sabes qual é o signo de uma pessoa que nasça a partir de 31 de Janeiro?
Senti um reboliço por dentro.
Uma agitação que não me calava a pergunta quem? quem é que vai nascer a 31 de Janeiro?
As lágrimas fogem-me sempre aos olhos quando algo acontece com qualquer uma das minhas irmãs. É um vinco que tens em ti, que levas amarrado onde fores e que te obriga sempre a parar para pensar, perspectivar ou repensar.. Agarramos-nos uma à outra com um vigor que vai além do festejo, que assimila concretização. Vai ser novamente Mãe. Vai ser justamente Mãe.

Fiquei a olhá-los. Soberbos.
Pelo que conquistaram. Pela consciência onde se procuram. Pela tamanha ousadia de moldarem seres humanos à sua forma, de se atreverem a permanecer nas expressões faciais que lhes são roubadas, em desafio.

Mais uma visita a trazer Amor, e apenas Amor, à Apúlia.
Fez-me perceber que algumas vidas fazem muito sentido para as pessoas que as vivem. A vida de Luluzinha que a minha irmã vive é uma das mais doces bandas desenhadas que li até hoje. Que guardo no sótão, ao lado do nosso Monopólio, das receitas que já passava aos dez anos e das cartas que os nossos pais trocaram quando um estava no Porto e outro em Lourenço Marques. Que guardo.

posted by SCS
junho 15, 2006

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Aqui só tu tens Segredos.

14.6.06



Cheguei a casa de mais um dia de praia,

pousei o saco em cima da cama
e acorri à varanda.
Lá estava ela! Imperatriz..
Encolhida no ninho e a olhar,
como se estivesse a pensar.

Uma laranja para mim.
Migalhinhas de pão sem passas para ti.



O Sol bate de lado e dá aquela sombra comprida a tudo que se quer despedir.

O patrocínio da hora de música é da Telepatia, loja de acessórios de moda.
Ficamos ali. Não sei se a pensar, se a sentir.
Meio a ver, meio a não ver, a saltar as coisas com os olhos como se também nós lhes estivéssemos a dar as Boas Sombras. Lembrei-me da cara com que te despedes de mim e fiquei a imaginar como não me importava de a ver outra vez. Bom, eu fiquei a sonhar um bocadinho. Mas só um bocadinho!

Fui buscar um cigarro para enrolar e saltou-me um papelito, pequenino mesmo, que tem quatro versos de um poema.

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha
A essa hora dos mágicos cansaços
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...

Escreve uma mulher uma obra vastíssima e eu roubo-lhe isto!
Terá um dia de me desculpar e perceber que neste momento trinta anos de qualquer coisa reduzem-se a quatro versos que trocava pelas nossas quatro horas de quatro histórias engolidas.
E fiquei ali,
assim,
a ver a tardinha,
os mágicos cansaços,
duas de letra com a vizinha,
a amansar os meus braços...

É evidente que quando se respira o desejo de ser visitado,
o Universo lá faz das dele.
Sem descanso.

Que prazer vitorioso é este o de poder receber.
Quarta feira foi o dia em que promovi Jantar na Varanda a dois amigos acabados de chegar de lua de mel.


Conheço-os pelos sorrisos ao fundo da rua.
Enchem a casa como um Fado Corridinho que se ouve perdido pelas ruas no mês das Festas Populares.
Apresento-lhes a andorinha e a Nossa Varanda.
Sinto-os descerem à anca num agora percebo porque gostas tu tanto de vir para aqui.


Trocam-se relatos de viagens, culturas conhecidas e aprendizagens assimiladas como se se fumasse cachimbo de concordata paz. Entretemo-nos a contar um tanto de tudo que tem acontecido a esta vida que nos anda a viver.

Num impulso, género catraia com brinquedo novo, leio-lhes a carta que escrevi à Marilyn. Agradeço-lhes tais desabafos mas não consigo perceber nem metade da paciência que estes dois têm para ouvir as baboseiras em que me lavo ao escrever. E não percebo como podem querer a foto que guardei do dia de casamento deles. Mas, bom, como não existe desejo dos meus amigos que não acorra ao céu a roubar só para pousar-lhes no colo, seguirá ainda esta semana. Via Mala Postal.

Quando nos lembramos que o mundo não pára passava a voar das quatro da manhã. Nem todas as pessoas se sabem perder pelos ermos atalhos de um Té Té Té.

Guardo como foto de mais um dia de Apúlia, a cara da minha cúmplice, sentada na minha cama, de olhos garotos e sorriso ansioso. Não descansa! Não existe nada naquele momento que a distraia, cale ou engane. Com o corpo a saltar pergunta-me, logo a mim que me pensava perita em desconversar, com quem? com quem querias dormir no Moinho?! Nem todas as pessoas nos deixam no chão do quarto o Tinto que engolia com os teus quatro versos trocados. Tão fácil assim.

É esta atenção,
este eterno interesse pelo que me vai pelo peito que me faz no caminho até aos outros.
Não me distraio de tamanhos privilégios.

São estes que saltam às cordas de mundo paralelo connosco e nos deixam encaminhados, já sem distracções, no trilho assertivo da nossa vida. São estes que, tantas vezes, se sentam connosco numa varanda a pensar nas questões que temos para fazer à vida, nas opções que lhe tivemos de cortar.
Destes, que o fazem generosamente.
Afinal é da nossa vida que falamos.
Sabemos que não conheceremos uma única resposta.

posted by SCS
junho 14, 2006

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Abri muito a Boca. Incrédula.

13.6.06



Se temos ventos de norte, percebo que vou ter de me mudar.
Se temos amena aragem, percebo que vou competir Quietude ao Sol com qualquer um dos gatos da vila.
Se temos tempestade, percebo que me vou abrigar em nostalgia de um tempo que não vivi.
Maldito ascendente que me move ao sabor da Lua e de como ela brinca às marionetes com as Marés. Muito mais do que, em consciência, desejaria.

Abri a cortina e chovia.
Bem! Como chovia!
Fiquei incapaz de reagir.

Sentei-me na beirinha da cama, prostrada no Mar.
E na chuva, e na areia molhada, e no cinza, lilás e verde deste liquidante céu.
E na praia vazia, e nas barracas despidas, e nas bandeiras pesadas, e nas esplanadas recolhidas, e nas madeiras escuras, e lonas ensopadas.

Dois carros estacionados.
A andorinha resmunga-me, enfadada.
Je suis dessolée, ma chère.

Voltei a ter consciência do mundo na Esplanada dos Moinhos
com uma mensagem de telemóvel:
A cegonha vem a caminho.

Senti-me momentaneamente visitada pelo fantasma do passado, do presente e do futuro, como se se condensassem em matéria única. A energia com que me tocaram arrepiou-me o corpo até às extremidades.
.
Uma amiga daquelas que sabemos o que dizemos quando dizemos Uma Amiga tinha alcançado a resolução em que se prometera para 2006. E isto de acompanhar a vida de quem nos está dentro no instante em que ela acontece faz-nos sentir parte conquistada, repartida e abraçada. Maldito canto da boca que te foge para cima e te faz perceber claramente por quem te deixas contagiar.
Sentimento inequívoco de que o mundo afinal tem os seus dias de justiça. Bem como os tem de passos dados no legado histórico da Humanidade: qualquer coisa nossa faz tanto sentido que se renova no imperativo de permanecer. Mais uma vez chego à conclusão que dias assim só por amor trocado entre duas pessoas.

À noite obrigo-me a sair para provas de contacto humano, só para não correr o risco egoísmo de crescer a pensar que sou espécie única.

E eis a razão pela qual na Apúlia, contrariamente a algumas expectativas, não existe espaço para o garantido.


Lá fora continua a chover e a raiar mas cá dentro, no Museu Caffé, esse espaço do Karaoke Só Às Sextas, seis mesas esticam um grupo de franceses com quem já me tinha cruzado pelos Murais do Che.
Enchem o espaço em conversa um tanto ébria necessário, procuram animação, gente e memórias da sua última noite pelo Norte. Falam com toda a gente e pouco depois já se vê brindes e abraços! Não há perna que aqui dentro não marque o ritmo com vontade de dançar.


Claro está: é daquelas que não perco!
Ora em francês, ora em inglês, ora em espanhol, fiz amigos de abraço e ouvi o meu nome a acentuar-se novamente num ‘à’ de língua além fronteiras.
Descontextualização absolutamente necessária, em cenário de férias, esta a de não falar português, a de descobrir pessoas que vivem longe e que olham para tudo isto como eu, como não sendo de cá, como pela primeira vez.
Adoram sempre Portugal. Gostam da qualidade de vida que aqui encontram, gostam da generosidade que a natureza expande pelas terras do nosso país. E falam-me invariavelmente da cor. Da diferença da cor e de luz que encontram entre distâncias tão curtas.

Adoram o meu país quase tanto como eu, que me deixo conquistar por ele todos os dias. E rendem-se a isto, essencialmente a isto, de se poder trocar duas de letra com toda a gente. Deixam-se vestir, ou despir, por este bem estar relacional que os cobre de um sentido esmagador. Como pessoas, sentem que se perfazem em mais sentido.

A vida sempre me pareceu fazer mais sentido quando baseada em conceitos relacionais.Todas as comunidades que conheci têm os seus códigos, as suas condutas. As nossas começam por esta: a do coração na boca. Com o mau e o bom que a nossa impulsividade acarreta, o meu sentimento de eterna estrangeira, é de orgulho dessas nossas francas e limpas qualidades.


Foto do dia? Ao empregado do Bar.
Em conversa perdida pela noite senti-lhe o efeito tubarão-baleia: raríssimos!; os mergulhadores que o procuram podem estar a nadar-lhe ao lado e não o verem, é tão grande que não lhe decifram os limites.
Perguntou-me o que uma mulher, como eu (?), tinha ido para a Apúlia fazer.

Não fui capaz de lhe responder. Não percebi a pergunta.

Recolhi à Varanda do outro lado da rua tarde e a boas horas.
A andorinha murmurou-me em sono qualquer coisa arrastada que não percebi.
Fiquei ali, a proteger a bela adormecida na sua ausência e a pensar atrás da minha vista longa e elevada sobre o mar.
Abençoada ingenuidade em que esses outros estranhos me enquadram! Se existe algum desnível nesta relação, ela está em mim. A mim é que me faltam Sete Palmos de Alma para atingir o teu Calcanhar de Aquiles.
Chovia.
Os raios continuavam a cair.
E eu, naquele momento, não me importei nada!

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junho 13, 2006

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Note-se o registo de vida!

12.6.06



Acordei e ao fundo, tipo burburinho, gargalhadinhas de meninos e meninas excitadíssimos por estarem a chegar de autocarro à praia rodeados de gente do mesmo tamanho.
Abro a cortina, apoio-me no corrimão e sou de imediato cumprimentada por uma andorinha. Acertamos conversas e estabelecemos concordância em partilha de espaço.
Ela murmura-me e encolhe-se.


Primeiro imperativo: matar saudades da minha Apúlia.

Compro pão na Bolaria e trago o Diário do Minho da Tabacaria.
As lojas abrem com tempo e às dez horas ainda se penduram roupas de praia, bolas e baldes, pás e forminhas, lenços e chinelos como se de reclamos luminosos se tratassem.
Com calma.
Cheios de tempo.

Passo pelo Mercado e espreito o que apanharam hoje de verdes. A Papelaria, o Sapateiro Artesanal, a Florista, a Sargaceira, o Mini-Mercado, o Cabeleireiro, a Loja de Artesanato que partilha toldo de rua com a Peixaria, o Salão de Jogos, a Imobiliária, o Banco e a Igreja.
Tudo no mesmo sítio.
Como se o tempo não lhe tocasse,
como se aqui ninguém mandasse mais do que quem cá está
e o que contasse fosse olhar o mar
e deixar o que for preciso para o poder fazer.
Tudo tem muito tempo para ser feito, na Apúlia quem dá as cartas está a oeste de tudo o que se pode ver, cheirar, tocar.

Ao chegar à Lota encontro uma das peixeiras que conheci no ano passado. Está de mãos nos rins a ver tudo o que mexe até à linha do horizonte. Está à espera de ver o marido. Ninguém com ela fala até o barco definir a primeira linha no mar.
Encolhe a cara atrás das rugas e fica ali, em murmúrios com a Nossa Senhora da Guia, à espera.
Há quarenta anos que o espera todos os dias pela manhã.
Faça sol, chuva, calor, frio, nevoeiro ou tempestade.
É o lugar dela no mundo, no extremo do alto da praia, a olhar para o mar até que o barco fique à distância da vista, do aceno que atira para o longe, sem resposta para mim perceptível, para ele.. incitadora.


Fiz a marginal pelo Castelo embalada por esta imagem em que a guardo e em que a revi este ano na certeza que não existe acto histórico, feito humano ou luta travada que não se encarem em prol da sobrevivência daqueles que amamos.
Muitos pensariam que o herói da minha história seria o marido, pescador, que enche o peito a cada dia de ninguém percebe bem com quê para entrar no mar e contar apenas com a sorte de voltar.
Mas a heroína que trago desta história é a sua mulher.
Que, todos os dias, põe o peito na borda da água porque existe apenas um homem a quem segue o rasto, que a leva para dançar e de quem recebe qualquer prata encontrada depois da rebentação, depois da linha, depois do lá longe.


Não deixo de levantar o canto da minha boca quando me cruzo com mais uma mulher que quer saber tanto do peito dela como eu do meu! Um aperto que passa a nada quando o comparo ao tanto que nela vejo sempre que o marido chega e desembrulha relatos do barco, da corrente, do pescado, do manel, das rochinhas na areia ou das gaivotas que não o largam. Rouba-lhe um beijo antes mesmo de ir pôr o barco a salvo.

Cheguei a casa e recolhi ao meu alto na praia.
Impus-me assimilação. Preciso perce(v)er que vida é esta além mar, além de como ela me aparece.
A andorinha canta-me.

Está um dia rasgado de praia. Adoro o consolo de um protector solar!
A memória dos cheiros salva-te ao puxar-te para um lugar de descontração.
Abres-te a sensações.
Entregas o corpo ao contacto com os elementos.
O Sol não descansa enquanto não coscuvilha todos os elos da tua coluna. A areia aninha-te e o vento tempera-te. Não fosse a natureza e correria sérios riscos de pensar que tinha perdido a sensibilidade ao toque.
E este mar que eu quero e amo, tanto! tanto!
Sal, salitre salgada. Misto alga, sargaço, iodo.
Fresco sem ser frio. Forte sem ser frívolo. Fundo sem ser fugidio.
Preciso mergulhar nele. Preciso de me fundir, de me limpar, confundir e libertar.
.
Não posso, por incapacidade de negligência, deixar de guardar a noite de trovoadas que se abriu na Apúlia.
A foto do dia tiro-a aos raios mudos e secos.
Apenas luz chicoteada no Mar.
O vento mudou a direcção e a velocidade das bandeiras.
Ao longe e a cru, sem sequência contável, raios a caírem verticais no mar, a flasharem os passos em volta de coices prateados.

O caderno fecha-se porque a Senhora da Guia anuncia O espetáculo vai começar.
No primeiro camarote, andorinha e companhia respiram em silêncio, para o sentir melhor.

Vil privilégio!
Da minha varanda não existe espetáculo a que não se assista.
Pois descobri que não sou do tamanho da minha altura,
sou do tamanho do que me nivela.

posted by SCS
junho 12, 2006

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Chegada sou.

11.6.06



Ao fundo um rádio tipo transistor envolto em sintonias precárias anuncia móveis da vizinhança.
Acendi um Gigante e vim até à Varanda.
Até à minha varanda de vista longa e elevada sobre uma baía que o mar roubou a Portugal.

Não é mentira, estou aqui, consegui cá chegar, cá me perfazer, cá querer crescer.

A sinergia de praia está instalada.
Passam gentes de vestidos de Verão, guarda-sóis debaixo do braço, máquinas apoiadas nas barrigas.
Eis a razão pela qual a Apúlia nunca me decepciona: o sol crestou a pele e impeliu-me de imediato a cheirar a protector solar.

As barracas de praia permanecem listadas a azul e branco praia mar.
O vento de Norte cumpre-se em promessas e agita bandeiras e bandeiras de gelados que me cantam ‘Olá!’ ‘Olá!’ ‘Olá!’ até eu lhes perder o ritmo.

Apúlia, precisamente como a precisava.

Dei com uma andorinha a fazer ninho na quebra do tecto.
Frenética!

Fiquei ali, a olhar para ela e senti-me no meio de um dos contos de fadas que me contavam em menina em que os passarinhos vinham à nossa vida para dar laços em chapéus de aba e anunciar a chegada de um grande amor.
Disse-lhe ‘está bem, venha ele!’ e fui logo ao fundo do saco do pão buscar migalhinhas para ela me saber sempre encontrar.

A photo que guardo ao dia é da imagem do Che na parede do salão de jogos da Vila.

Seamos realistas
exijamos lo imposibile.


À noite ofereci-me um Tinto e uma Varanda.
Porque acho que os mereço.
Concentro-me nos reflexos prata
a colidirem no negro noite do mar.
A Lua está irrepreensivelmente cheia.
Sinto-me rodeada pelas partes do universo que mais mistérios me lançam.
Sinto-me enquadrada.
Sinto que pertenço.

O acaso dá a achega desejada e põe o Oceano Pacífico – esse mito! - a passar
I still haven’t found what I’m looking for.
Doce garantia esta de não o ter perdido,
de apenas não o ter encontrado.

posted by SCS
junho 11, 2006

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mala postal a marilyn monroe, amante.

6.6.06



A foto da Marilyn salta-me em pop-up cerebral. Olha para mim, em desafio.
Conheço-lhe a inquietude,
o pedaço de peito insatisfeito,
indeciso,
preso em auto balanço para apurar
afinal
qual o preço a pagar pela forma como queremos viver os enlaces.
O que deles queremos sorver.
.
.
Este é um dos moinhos que tenho na Apúlia. São quatro ou cinco seguidos nas dunas. Nada na Apúlia parece ter sido deixado ao acaso. E se me perguntassem hoje, sei com quem queria dormir num deles. De preferência numa noite como a que não me deixou dormir hoje. Numa noite de Vento de Norte. Aquela fortíssima Nortada que só o Chocolat explicou ao mundo como a sinto nas praias do norte. Todas as pessoas que conheço fogem da praia, acham ser desagradável. Eu sei o fácil que é chegar-me ao peito. E não arranjo forma de me proteger disso de me apaixonar em menos de dois segundos, fazer as malas e experimentar viver outra Vila dentro da minha Vida.

Minada estou.
Declaro-me dangerous ground.
Reservo patente ‘Jantar na Varanda à Luz de Lua Garantidamente Cheia’ para um homem que nem o meu número de telefone se lembrou de pedir.
Mas a verdade é que gostava de o ver por lá, num fim de tarde sem noção alguma de horas. E era com ele que queria ficar na praia até o frio decidir desligar o rádio transistor de discos pedidos e publicidade local, enquanto o Sol baixa e tinge todas as cores primárias de amarelo.

Ora, ora!
Mulheres bem comportadas não ficam na História.

Pelo norte, Marilyn, andam ventos de norte.
Ora te agitam em agonia e receios, ora te acalmam na clarividência que nada tens e que, mais uma vez, vais ter de te mudar.

A História engoliu-me.
As histórias engolem-nos sempre.

Cala-te, Marilyn! Mulheres tão fantásticas, tão maduras e ainda me vais explicar como nunca aprendemos nós a proteger o peito.

Embrulha os teus dez dedos e torce para que nem tudo na Apúlia se proteja de acasos.
Se pensarmos bem percebemos claramente que o mais difícil na nossa História é encontrar alguém a quem entregar as costas, em aconchego, para adormecer.

Dá um sopro ao meu Vento de Norte.
Leva-o até lá, à tardinha.
E fica-me a sorrir por não ter protegido o peito.
O canto da minha boca foge-me para cima sempre que me lembro que não quiseste saber do teu.

posted by SCS
junho 06, 2006

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