Hoje agarrei-me ao corpo porque me lembrei que daqui a um mês
estou a entrar num avião que me vai levar
a Maputo.
E deixou-me assim, parada, a olhar.
Parada,
estou a entrar num avião que me vai levar
a Maputo.
E deixou-me assim, parada, a olhar.
Parada,
como estou agora,
a olhar.
a olhar.
Vou sozinha.
Tenho lá uma amiga queridíssima, a quem guardo escandalosa saudade, daquelas que sei hoje só fazermos numa determinada fase da vida, mas saio daqui sozinha, como saio para todo o lado.
Sozinha. E não entendo que leitura poderás fazer aos meus dias por esta aldeia que recusa globalizar tantos dos seus recantos.
Agarrei-me ao corpo porque tenho dias em que me sinto na tua pele. Alienada.
Sofres de uma pigmente dualidade.
És tu ou a outra.
A mesma que se tenta em tantos lados quantos apontados.
Que volta a ti cheia de novos pedaços.
Estardalhaços.
Identificas, pelo menos, duas mulheres dentro de ti.
Uma que vai,
Identificas, pelo menos, duas mulheres dentro de ti.
Uma que vai,
sem olhar para trás num único aceno.
Outra que leva sempre consigo,
Outra que leva sempre consigo,
amarrado na garganta e na anca,
o passo que a fez andar.
Para ser franca, que a fez querer ir.
E fico nesta tua demência, sem saber qual a mulher que preciso mais que vá, que se implique nisso de ir. Qual delas precisas de trazer renovada de horizonte africano.
E a noção foi clara, hoje.
Vais a África.
Não conheço ninguém que voltasse em ausência de África para aquele mesmo registo quotidiano.
E fico nesta tua demência, sem saber qual a mulher que preciso mais que vá, que se implique nisso de ir. Qual delas precisas de trazer renovada de horizonte africano.
E a noção foi clara, hoje.
Vais a África.
Não conheço ninguém que voltasse em ausência de África para aquele mesmo registo quotidiano.
para qualquer uma delas.
Afinal é de África que estamos a falar!
E de ti,
Afinal é de África que estamos a falar!
E de ti,
que quando mudas perdes noção terrena de tempo
e já não és tu outra vez.
Andas sempre nisso, de mudar. Até o paladar tu mudas. Aqueles que te arrepiaram a língua um dia, estão hoje fotografados em sépia de parede de uma casa que tiveste anos atrás.
A pergunta que berro aqui, à tua demência, ou à minha, espero que o vento me a responda em pressa de desafio.
Com tantas outras experimentadas dentro de ti, como posso só eu saber-te uma das mulheres mais solitárias em que parei olhos? Saberá quem te lê do que falamos? Ou medimos frases como não quero morrer de ti a conta gotas de paixões e entusiasmos? Que vidas nos passam assim tão despercebidas? Como será possível tudo isto onde nos fervemos passar tão despercebido nos peitos nus em que os vemos?
Absurda pretensão a minha.
Eu conheço a minha vida. A minha demência.
Conheço apenas a minha. E bicho de mato te leio.
Não me digas nada,
vejo que me entendes,
mas tenho receio dessa compreensão,
tenho medo de encontrar alguém semelhante a mim
e ao mesmo tempo
desejo-o.
Sinto-me tão definitivamente só,
mas tenho tanto medo que o isolamento seja violado
e eu não seja mais o cérebro e a lei do meu universo.
Sinto-me no grande terror do teu entendimento,
meio por que penetras no meu mundo;
e que,
sem véus,
tenha então que partilhar o meu reino.
Sinto-me tão definitivamente só,
mas tenho tanto medo que o isolamento seja violado
e eu não seja mais o cérebro e a lei do meu universo.
Sinto-me no grande terror do teu entendimento,
meio por que penetras no meu mundo;
e que,
sem véus,
tenha então que partilhar o meu reino.
Lembras de escrever isto?
Lembras de o ter sentido?
Eu lembro-me da cadeira onde estava sentada quando o li pela primeira vez.
Leio qualquer um de pé.
E voltei a sentar-me hoje, para procurar
no teu livro, roto e rasurado,
aquilo que um dia me tinhas dito.
A minha ingenuidade prevalece, porém.
Não te esqueças que hoje é domingo,
não contes a ninguém.
Não direi mais nada.
Não te esqueças que hoje é domingo,
não contes a ninguém.
Não direi mais nada.
Até porque vejo que, para meu pânico, me entendes tão bem..
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