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Mala Postal a Serafim Ferreira da Costa, columbófilo.

14.11.06



O pormenor mais sórdido que guardo como imagem do dia foi estar sentada na cama a tirar, pacientemente.., o verniz vermelho das unhas.
Como se o tempo tivesse parado.
Numb.
Releva-me, desta vez, o estrangeirismo, mas para mim as palavras são cada vez mais preciosas. Era como estava.

A andorinha que fez ninho na minha varanda da Apúlia fez-se dotar de mais um sentido hoje.
É verdade que me anunciava a chegada de um amor.
E também é verdade que me deu um laço no chapéu de abas, daqueles que se usavam muito atrás do teu tempo.

Percebi que os pássaros, ou os seres voadores, não aparecem na minha vida por obra de um mero acaso.
Aparecem porque eu os chamo.
Porque os aprendi a chamar contigo.

Para mim continua a ser um mistério o facto de um dos teus melhores pombos ser solto em Espanha e aparecer-te, poucas horas depois, no fundo do quintal.
Será do tal tino?
Ou será pelo teu assobio?
Não sei se contaste as vezes que te pedi para me explicares como é que o pombo sabia o caminho para casa. Percebo hoje que minha assiduidade em questionar revela, apenas, vontade de ir ao seu encontro.
Porque também eu quero caminhar.
Ou, então, voar.

Acho que te posso confessar que, pelo sim, pelo não, continuo a assobiar-lhe.
Para que ele aprenda o caminho até mim.

Caso não consigas ler o bilhetinho que te deixei, sem anilhas, mesmo por cima do teu pé morto, ele diz-te que
.

de ti guardo o ensinamento de
nunca perder a vontade de voar.

posted by SCS
novembro 14, 2006