Abri muito a Boca. Crédula.
28.11.06
No lugar quadrangular de um dos paralelepípedos cinzentos e lisos que fazem o passeio estava um montinho de terra com um,
Sim, perfeito ao ponto de ser amarelo.
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Cerrei os olhos para ver o melhor porque me senti arrastada num estalo cuidado que se oferece a quem passa,
ou passa sem perceber por onde está a passar.
Haveria melhor resposta do Vira Vento a este meu desencantamento?
Seria alucinação na terra sem razão?
Ou seria o safado do acaso mais uma vez a dar-se em recado?
Até podia ser uma voz sarcástica ao Siza, uma homenagem ao Cesariny ou uma embalagem que não deixou a flor ganhar a sua raiz num qualquer quintal.
Eu parei.
Não encontrei na Física nenhuma explicação.
Nem tão pouco me perdi na sua inquietação.
Senti-me apanhada numa descontextualização sordidamente necessária.
Por vezes é mesmo o acaso dos caminhos que escolho - ou aqueles que gosto quando os percorro - que me levam a tropeçar no amor, que será perfeito, com todos os defeitos que considero necessários à sua sistematização.
De preferência colocado a meus pés, quando ando distraída, de nariz em cima, a caminho de uma qualquer avenida.
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novembro 28, 2006
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Aqui, o Domingo é de Segredos.
26.11.06
Vinyl. 1951.
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novembro 26, 2006
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Raindrops.
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Shop – Shop.
Era o som que sentia dentro das minhas botas.
Gosto de um bom dilúvio,
gosto do que nele descubro.
Nem morrinha, aguaceiros, nem molha tolos,
o que eu gosto é de paredes de água a cair de toldos.
Gosto de poças enlameadas.
Gosto daquelas chuvas cerradas.
Gosto dos vidros embaciados,
de lhes deixar os meus dedos marcados.
Gosto de pingas grossas que me acertam no pescoço,
determinadas e cuidadosas.
Gosto de capas impermeáveis e transparentes,
gosto de guarda chuvas com o dobro de dentes.
Gosto até do trânsito lento.
Sempre gostei de corridas contra o tempo.
Gosto de um céu esverdeado,
que nos anuncia um belo tornado.
.
Gosto dos dedos dos pés enrugados,
quando escolho os caminhos alagados.
Gosto de um chão patinhado.
Gosto de um puzzle molhado.
Gosto de me pôr debaixo das caleiras,
da sensação de chegar ao Sótão e trocar de meias.
Gosto daquelas mulheres da publicidade da Segafredo,
gosto do que me sussurram em segredo.
Foi com uma delas que me sentei a fazer
apenas isso de ver chover.
Gosto de um bom dilúvio para me lavar,
para aprender, mais uma vez, a andar.
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novembro 24, 2006
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Order Commander - Gosto Disto -
22.11.06
Bons cheiros estas músicas me trazem à memória.
Às vezes parece que a minha vida foi coisa que aconteceu há já muitos anos atrás.
Outras vezes.. que está ainda toda por acontecer..
Neste álbum?
A condensação dos dois mundos.
Ou então de um muito meu.
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What difference does it make? - The Smiths
In between days - The Cure
True faith - New Order
The Cutter - Echo And The Bunnymenv
This Corrosion - The Sisters Of Mercy
Sit down - James
Love will tear us apart - Joy Division
Sex dwarf - Soft Cell
She´s in parties - Bauhaus
Love my way - Psychedelic Furs
Rain - The Cult
No mercy - The Stranglers
I ran (So far away) - A Flock Of Seagulls
Wasteland - The Mission
Need you tonight - INXS
Step on - Happy Mondays
Here comes your man - The Pixies
Rattlesnakes - Lloyd Cole And The Commotions
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novembro 22, 2006
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Domingo? Segredo.
19.11.06
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novembro 19, 2006
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Correspondência Interna.
16.11.06
O Vento atinge rajadas na ordem dos 120km/hora.
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novembro 16, 2006
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photosíntese.
15.11.06
Nunca a frase
'É o meu avô e ponto final'
fez tanto sentido.
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novembro 15, 2006
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Mala Postal a Serafim Ferreira da Costa, columbófilo.
14.11.06
O pormenor mais sórdido que guardo como imagem do dia foi estar sentada na cama a tirar, pacientemente.., o verniz vermelho das unhas.
Como se o tempo tivesse parado.
Numb.
Releva-me, desta vez, o estrangeirismo, mas para mim as palavras são cada vez mais preciosas. Era como estava.
A andorinha que fez ninho na minha varanda da Apúlia fez-se dotar de mais um sentido hoje.
É verdade que me anunciava a chegada de um amor.
E também é verdade que me deu um laço no chapéu de abas, daqueles que se usavam muito atrás do teu tempo.
Percebi que os pássaros, ou os seres voadores, não aparecem na minha vida por obra de um mero acaso.
Aparecem porque eu os chamo.
Porque os aprendi a chamar contigo.
Para mim continua a ser um mistério o facto de um dos teus melhores pombos ser solto em Espanha e aparecer-te, poucas horas depois, no fundo do quintal.
Será do tal tino?
Ou será pelo teu assobio?
Não sei se contaste as vezes que te pedi para me explicares como é que o pombo sabia o caminho para casa. Percebo hoje que minha assiduidade em questionar revela, apenas, vontade de ir ao seu encontro.
Porque também eu quero caminhar.
Ou, então, voar.
Acho que te posso confessar que, pelo sim, pelo não, continuo a assobiar-lhe.
Para que ele aprenda o caminho até mim.
Caso não consigas ler o bilhetinho que te deixei, sem anilhas, mesmo por cima do teu pé morto, ele diz-te que
de ti guardo o ensinamento de
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novembro 14, 2006
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Today? Again, Sam.
Estás em casa e o indiano na loja debaixo eleva o som.
A tarde é apenas final.
Conheces bem dança.
Já a dançaste tantas vezes que nem olhos precisas,
apenas sentidos.
Sensorialices!
Bons sensos.
Nada preso.
Sabes bem quem és, pelo menos sabes quem foste hoje.
Percebes.
Até vês,
vês claramente a mancha silhueta que te segue para todo o lado.
Vês-te a ti, ali, na outra.
Elevas o queixo numa arrogância tipicamente aquariana e danças,
só porque faz sentido.
Hoje faz sentido.
Se a tua vida fosse outra não serias capaz de a viver melhor.
Pago sempre com o meu reino isto de sentir em mim o ímpeto de ir.
De me implicar.
De em ombros me carregar.
De me lavar e renovar as vezes necessárias até cá chegar.
Não consigo nomear uma única vez que tivesse ficado mais pobre.
E danço.
Hoje danço.
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novembro 13, 2006
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Mala Postal a Fátima Crisóstomo, professora.
na forma humana como não a praticamos,
na educação como não a apregoamos.
Sinto-me a empenhar energia e capacidades num projecto educativo que me recuso a abraçar.
Hoje a Greve não é uma notícia longínqua na televisão,
ao fundo,
e baixinho.
Hoje, em dia, faço Greve.
E faço Greve dentro dos muros e portões da nossa Escolinha.
Ou, pelo menos, a trabalhar para ela.
A minha Greve quero-a berrada em pulmões a gente miudinha.
Hoje digo NÃO à tirania que nela se pratica.
Digo que não existe uma medida pedagógica, uma postura adoptada ou uma qualquer lógica e, repare!, uma com a qual consiga sentir-me a concordar.
Acredito que estamos a deixar uma geração meramente ao sabor do acaso.
Que, se pensarmos, a rima encalha no atraso, no colapso.
Não pode, a meu ver, uma escola promover o incentivo último ao desequilíbrio social. Não pode jamais negligenciar o seu potencial.
E não podemos de todo deixar este legado numa geração à qual vai ser exigida a mudança. Se pensarmos que na sua vida adulta se esgotará o petróleo dos lençóis naturais teremos de os potenciar, no mínimo, a serem cordiais.
Bom, se alguma coisa cresci nestes dois últimos anos com o exemplo diário de uma má gestão escolar foi certamente em ter deixado de acreditar no absoluto da destruição.
Agora prefiro a construcção.
Conheço a realidade da nossa escola.
Porque parei para olhar.
Para a perceber.
E acredito no potencial humano que nela encontrei.
Sei que está dotada de recursos para fazer mais e melhor.
Sei que conseguem.
Ou por outra, sei que querem.
E sabendo que o único problema que encontram é de liderança, proponho-lhe que os lidere.
Que nos lidere.
Que nos ajude naquilo em que abraçamos como projecto de intervenção na vida.
Que nos ajude a educar.
A ajudar fazer crescer.
A não viver com medo de perder.
Ajude-nos a mostrar a estes meninos que a vida não tem de ser tão fingida.
Temos de acreditá-la bem mais colorida.
E para se defender de eventuais prejuízos legais,
como primeira medida exija uma auditoria.
Ambas sabemos que, afinal, o primeiro é sempre para o pequeno pardal..
Serão responsabilizadas.
Nem que seja, um dia.., em almofadas.
Lembre-se que Mouzinho da Silveira nos rasgou uma rua para a Ribeira.
A luta dos Cercos no Porto é antiga.
Mas não se conhece Miguelista que não calasse a cantiga..
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novembro 10, 2006
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Porque há Café. & Caffeé..
8.11.06
Meio despedaçado.
Outro meio desacreditado.
Para vencer o tormento dedicou-se a preencher as horas da vida
com o que demais havia no dia.
Uma azáfama!
Correrias para aqui.
Encontros para ali.
Reuniões, viagens, jantares.
Umas quantas auto ilusões.
Outras quantas pequenas decepções.
Encontrei-o sentado.
Parado.
Falei-lhe da vida como eu a via.
Onde eu a lia.
Pegou num meus cabelos e exclamou: “Hum, caracóis!”
Pegou num dos meus versos e prometeu-lhe faróis!
Ora, uma mulher não precisa muito mais para se encantar!
É uma questão de raça,
afric(a)ndada.
E disse-lhe!
Se pudesse oferecia-te um bouquet de castanhas
Ou uma Shiva,
Ou um Budha,
Ou então um elephante de quatro braços e duas pernas.
Se pudesse era eu e tu na Grécia.
Discreta.
Ou então numa época diferente.
Em que se era mais gente.
Não sei Virginia,
não estou a ver as minhas respostas.
O Vira Vento conta dias que não gira.
Deve ser do frio!
De acordar a meio da noite para procurar-me em lãs,
da Ferrero voltar ao mercado à procura fãs.
De dar comigo a guardar a ventoinha,
a contar as folhas no chão da Escolinha.
Ou das botas e galochas nos expositores de moda,
da meia de leite que já não se pede morna.
Se pudesse dizia-lhe que estou a pensar tirar um curso de cozinha mediterrânica,
ou um de Espanhol,
ou então um de Expressão Dramática
para aprender de vez a expressar-me melhor.
Se pudesse oferecia-lhe a metade de mim que se revela.
Sim,
essa mesmo.
Para que nunca se perca.
Confiava-lhe os segredos.
E os seus enredos.
São nove.
Jamais alguém me pediu que os prove.
Vá! Virginia,
dá um sopro ao meu vento de norte.
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novembro 08, 2006
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Pega uma Photo de Phérias, Sam!
Na janela virada ao Hemisfério Sul cá no Sótão,
é assim que te respondo à mensagem,
cantado...
Tough, you think you've got the stuff
You're telling me and anyone
You're hard enough
You don't have to put up a fight
You don't have to always be right
Let me take some of the punches
For you tonight
Listen to me now
I need to let you know
You don't have to go it alone
And it's you when I look in the mirror
And it's you when I don't pick up the phone
Sometimes you can't make it on your own
We fight all the time
You and I...
that's alright
We're the same soul
I don't need...
I don't need to hear you say
That if we weren't so alike
You'd like me a whole lot more
Listen to me now
I need to let you know
You don't have to go it alone
And it's you when I look in the mirror
And it's you when I don't pick up the phone
Sometimes you can't make it on your own
I know that we don't talk
I'm sick of it all
Can - you - hear - me - when - I -
Sing, you're the reason I sing
You're the reason why the opera is in me...
Where are we now?
I've got to let you know
A house still doesn't make a home
Don't leave me here alone...
And it's you when I look in the mirror
And it's you
that makes it hard to let go
Sometimes you can't make it on your own
Sometimes you can't make it
The best you can do is to fake it
Sometimes you can't make it on your own
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novembro 07, 2006
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clap da manual a 6 de novembro, 06.
Todos no mesmo sentido, da direita para a esquerda.
Gosto imenso de animais mas nem a todos conheço os ritmos migratórios,
Para mim, os caracóis sempre foram um mistério!
E parei.
A vê-los.
Achei surpreendente o facto de irem na mesma direcção.
Não faço ideia sequer se são comandados, emancipados, ou organizados.
Se acreditam que juntos vencerão pés de humanos mais distraídos,
se o esforço vai ser algum dia compreendido,
se o tempo em que se movem é a garantia de nunca se darem por perdidos.
Lembrei-me que devem sofrer imenso neste país.
Aqui o tempo é todo à pressa.
Anda tudo a correr não se sabe bem atrás de quê, até porque já ninguém pára para perceber o que vê.
Poucas são as pessoas que olham para o chão quando têm de subir ou descer uma rua.
Já ninguém se deixa iluminar pela luz da Lua.
Ou suspende o frenesim para, por um momento que seja, pôr os corninhos ao Sol. (coisas de miúda!)
Se soubesse para onde iam tinham pegado em um a um e ajudado a lá chegar.
Mas, mais uma vez, fiquei presa nisto da responsabilidade que assumimos quando interferimos no caminho de quem cruza os nossos pés.
É então que fazemos a intervenção possível.
Cuidado!
Caracóis a migrar.
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novembro 07, 2006
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Mala Postal a Virgina Woolf, amante.
2.11.06
Não percebo se é no ritmo que sinto.
Ou no tempo, que dispenso, para saber sentir.
Tenho neste momento frio de cem vendavais.
Enguiço.
Espreguiço.
Endureço.
Sei que a experiência se repetirá,
amanhã,
como o próximo despropósito em que encalho quando sinto.
E sempre que sinto promovo o último pico ao ouriço.
Lamentável o último doer mais do que qualquer um dos primeiros.
Não percebo essa tua ausência no tempo. Como te fizeste tão intemporal.
Nem tão pouco quero saber o que sentiste quando pensaste que desististe.
Não nos servem perversas concórdias em portas giratórias das quais nunca conseguimos identificar o tempo momento de saltar.
Mas saltamos..
Lá isso, amamos!
E podemos encher a boca e pô-la torta de tanto que podemos dizer que amamos.
E que deslizamos, com lado oposto do ouriço.
Porque só tu o sabes liso.
Serei eu a personagem sem nexo?
Serei a personificação do verbo perso?
Ou estará este mundo numa esmagadora apneia,
sem ninguém a dormir à beira?
Ou então estamos tão rodeadas de gentis exemplares de amores efémeros
O que lhe escreveste tu antes de ir ao Rio?
Nunca tive coragem de o querer ler, ou entender, ou poder.
Não quero nem sequer saber.
Mas como se pensa um homem que não percebe os nossos desenhos a giz?
Ou que não se inquietou com o que se lê depois do que se diz?
Quando estará alguém apto a viver no nosso tempo?
Quantos picos tenho de juntar até me calar no acalento?
Quantas voltas na roda giratória para que nem só a mim grite dentro?
Frio de cem vendavais,
mesmo ali, no extremo do cais.
Tão despercebida passei eu, Virginia,
posted by SCS
novembro 02, 2006
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